quarta-feira, 25 de junho de 2014

Paradoxes of War

Estou trabalhando ainda no dossiê sobre trajes mecanizados, mas aquilo lá dá trabalho.

Por enquanto recomendo esse curso online, via plataforma coursera, da universidade de Princenton:

"Paradoxes of war"
https://class.coursera.org/warparadoxes-001

Ele diverge em alguns pontos do "A study of war", que é o meu canôn para falar sobre conflitos, mas é bem interessante, que apesar de ser de alto nível é fácil para alguém que nunca foi introduzido no assunto entender e é completamente descarregado dos "conceitos-feitos" que a maioria das pessoas tem quando vão falar de guerra.

O curso já começou faz um tempo, é verdade, não sei se é possível se inscrever nele ainda, mas a maioria dos cursos no coursera abrem turmas periodicamente então é possível que haja uma chance de vocês terem acesso a ele no futuro. Se não houver, eu dou um jeito de disponibilizar o material aqui.

Outro curso do coursera, este infelizmente já acabou e até agora não abriu turmas novas, mas é interessante e posso tentar disponibilizar o material dele aqui é o

"Conditions of war and peace"

https://www.coursera.org/course/warandpeace

Da universidade de tokyo. Igual ao Paradoxes of war, temos nele uma abordagem bem profissional, com nenhum apelo ao emocional, com nenhum "conceito-feito".

Por fim, da universidade de Leiden, um curso que eu já havia tentado fazer no passado, mas não dei conta e que vai abrir uma turma em 8 de setembro deste ano é o

"Terrorism and Couterterrorism: Comparing Theory and Pratice"

https://www.coursera.org/course/terrorism

Ele vai bem a fundo sobre a definição do que é terrorismo, sua história, a dificuldade em lidar com ele... Recomendo.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Trajes mecanizados: a pesquisa atual.

Quando alguém vê os trajes mecanizados do filme GI Joe e diz que os mesmos são algo puramente fictício e que ainda estamos muito longe trazer algo do tipo para a realidade, está cometendo um grave engano. Se na década de 60 o EUA já trabalhava no promissor hardiman, hoje EUA, França e Japão estão a poucos passos de terem os primeiros exoesqueletos operacionais em massa.



Sarcos/Raytheon XOS (EUA):

Provavelmente o traje mecanizado mais avançado existente, o XOS nasceu na Sarcos, que posteriormente foi comprada pela gigante Raytheon. Em 2000 o DARPA requisitou propostas para exoesqueletos militares e das recebidas escolheu a da Sarcos, um traje mecanizado movido por um único motor e com autonomia de 24h. A evolução dessa proposta resultou no XOS, que pesa cerca de 68kg e pode levantar bruscamente pouco mais de 90kg sem maior esforço ou desgaste por parte do usuário.
XOS 2

O XOS funciona basicamente da seguinte forma: um conjunto de sensores lê o movimento do usuário e transmite essa informação para um computador central. Este calcula o movimento que deverá ser executado pelo traje e transmite essas informações para válvulas que controlam a pressão de um fluido hidráulico em cilindros nas articulações. Isso faz com que os cilindros sejam puxados e empurrados. Cabos de aço ligam os cilindros aos membros funcionando como "tendões" e assim transmitindo o movimento aos membros do exoesqueleto.

Esquema de movimentação do XOS

Apesar do ganho em força propiciado ao usuário, o XOS ainda não consegue correr ou dar grandes saltos. Além disso, embora a proposta inicial da Sarcos tivesse 24h de autonomia o XOS precisa ser alimentado por um cabo de força. Por isso esse traje está mais para uso logístico do que para o combate. No entanto o XOS 2 já foi apresentado e até agora tem se mostrado promissor, com movimentos mais fluidos e enérgicos e menor consumo de energia (praticamente metade da consumida pelo seu antecessor).


Ekson Bionics/ Lockheed Martin HULC (EUA):

O "Human Universal Load Carrier" é um exoesqueleto hidráulico que está sendo desenvolvido pela Ekson Bionics (antiga Berkeley Bionics)e a Lockheed Martin, em um projeto financiado pelo DARPA. Sua função é basicamente aliviar o militar do estresse causado pelo peso de sua carga (munição, equipamentos, armamento...), redirecionando o peso desta para duas pernas de titânio, sem comprometer a mobilidade e a destreza do combatente.
Fonte: Lockheed Martin
O HULC (a sigla, uma analogia ao herói Hulk) possibilita que um soldado entre 1,6 e 1,85m de altura carregue cerca de 90kg  por longos períodos sem "sentir" essa carga. Além disso o exoesqueleto permite que seu usuário corra cerca de 11km/h por longos períodos e 16km/h e tiros curtos. Isso tudo sem restringir os movimentos do militar: mesmo vestindo o HULC, o mesmo pode saltar, agachar, rolar e rastejar sem grande dificuldade, graças a seu desing flexível.
FONTE: Lockheed Martin
Outro ponto importante do HULC é sua autonomia. Seu desing visa um gasto energético relativamente baixo. Mesmo com pouca energia o sistema ainda continua a suportar o peso da carga sem restringir o movimento do usuário.
FONTE: Lockheed Martin
Por fim, o mais interessante do HULC é sua modularidade. Apesar de ser originalmente um sistema para suporte de cargas, ele pode receber um grande numero de módulos, como blindagens para seu usuário, baterias extras e até sistemas de armamentos, o que o torna um forte candidato à um verdadeiro traje mecanizado de combate, ao invés de um mero burro de carga.

M.I.T. Media Lab's Biomechatronics Group Legs (EUA):

Referências:
POPSCI
Defense Update
Raytheon
Sarcos (Wikipedia)
Lockheed Martin
Defense Review
Ekson Bionics

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Liberdade

"A árvore da liberdade deve ser regada de quando em quando com o sangue dos patriotas e dos tiranos." Tomas Jefferson.

Vou dar uma pausa nas publicações sobre trajes mecanizados para falar de algo importante. Hoje, 07 de setembro de 2012, comemoramos o 190º aniversário de  independência do Brasil. Apesar de divergências sobre a data e considerações sobre a validade e os resultados do nosso processo de emancipação, é hoje que comemoramos nossa liberdade como nação, seja ela plena, ou não.

Não pretendo abordar aqui o evento histórico da independência, as batalhas que foram travadas ou como uma força nacional foi levantada e organizada para defender a nova pátria que surgia. O objetivo dessa postagem é fazer uma homenagem e também trazer uma reflexão.

Independência?

Não é incomum vermos a "validade" de nossa independência ser questionada. É claro que ninguém, ou melhor, quase ninguém discorda que hoje não estamos mais subordinados à Portugal e que não devemos mais satisfação à seus governantes. Mas o fato de nossa "guerra da independência" ter sido curta, a participação de elementos nacionais ter sido limitada, a relativa aceitação de Portugal com relação à nossa emancipação, o fato de termos pagado uma indenização à metrópole, a manutenção no sistema político, social e econômico e de sempre estarmos sujeitos às grandes potências do globo podem dar a entender que a independência do Brasil não passou de uma mera alegoria.

Independência!

Se a guerra foi curta, ela foi o suficiente para produzir heróis, em especial uma heroína, épica, Maria Quitéria, moça simples, que se vestiu de homem e se alistou em uma unidade voluntária e lutou bravamente pela independência nacional! Independente dos resultados houveram outros brasileiros que, como ela, tomaram parte na luta e acreditaram em uma nação livre e soberana! E por eles essa data deve ser lembrada.

Se houve relativa aceitação da metrópole e tivemos que pagar uma indenização, não podemos nos esquecer das outras lutas que não tiveram tanto sucesso e que foram duramente reprimidas. Ainda que não visasse toda a colônia brasileira, a inconfidência mineira foi uma luta legítima pela emancipação e por ela e todas as outras revoltas, o sete de setembro deve ser comemorado.

Se o sistema politico, social e econômico não mudou com a independência, ele mudou depois. E por isso, se ele ainda não está satisfatório e justo, poderá ser no futuro. E se ainda hoje estamos sujeitos à comunidade internacional (e excluindo discursos pseudo-intelectuais, xenofóbicos e extremistas), temos hoje importância inquestionável no cenário mundial. E o melhor de tudo? Só depende da gente para melhorar ainda mais nossa situação, seja interna ou externa. E é por esse compromisso que festejamos o dia da independência.

E a manutenção dela:

E se houveram sacrifícios no passado, isso não nos faz isentos de um esforço para manter e melhorar nosso nível de independência. Não é necessário militar em um grupo politico, não é necessário (pode ser que um dia seja) tomar atitudes extremas. Basta simples vigilância, sobre próprias atitudes (estou agindo de forma correta? Apesar de eu achar isso correto, não estou ferindo nenhuma lei e beneficiando algum criminoso? Estou sendo omisso com relação aos problemas sociais que me cercam? Estou cumprindo meus deveres antes de cobrar meus direitos?) E sobre a atitude daqueles que nos governam (nem preciso descrever). Basta o voto consciente, basta o trabalho voluntário, para ajudar a quem precisa ao invés de esperar tudo do governo. Basta aprender a pensar e ensinar isso aos outros, em vez de se acomodar na prepotência de taxar tudo e todos de alienados.

Nosso país não é uma merda, apesar dos atrasos tem crescido e não só isso, tem dado cada vez mais mostras de dignidade e justiça. O mal do Brasil não é o brasileiro, eu, e provavelmente você somos brasileiros. O mal que afeta nossa pátria é o mesmo mal que afeta o mundo, a ignorância e o orgulho dela, mas isso pode ser mudado, com disciplina, dedicação e determinação. E para todo aquele que fez e está disposto a fazer sua parte para um país maior e melhor o sete de setembro serve de homenagem.

Parabéns e feliz dia pátria.

Parada aqui em JF. Não, não fui eu quem tirou a foto.







quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Trajes mecanizados: ... a realidade

As perspectivas sobre os trajes mecanizados, oferecidas pela ficção eram boas demais para que algo do tipo continuasse apenas como uma ideia. Na década de 60 militares norte-americanos em conjunto com a General Eletric começaram um projeto ousado: criar o primeiro traje mecanizado, o Hardiman.

Hardiman


A ideia:

Uma máquina que imite os movimentos de seu usuário, uma conexão da inteligência e versatilidade humana com a força e a resistência de uma máquina, como foi dito no "naval research reviews" de julho de 1967. A ideia já explorada e difundida pela ficção começou a ganhar forma com o projeto Hardiman: um par de exoesqueletos movidos por um sistema elétrico e hidráulico que tinha a capacidade de potencializar a força de seu usuário na proporção de 1 para 25, ou seja se um operador levantasse um peso de 100kg usando o traje ele sentiria como se fossem apenas 4kg.

O hardiman funcionava num sistema de mestre-escravo, por isso era necessário um par de exoesqueletos: em um ficava o operador, que fazia os movimentos que eram copiados pelo traje escravo. O fornecimento de energia vinha de um cordão umbilical o que não era necessariamente um problema, já que não se previsa seu uso direto em combate e sim em tarefas de material bélico, como o carregamento de bombas em aviões.

Concepção de uso: carregamento de bombas em aviões


A História:

O projeto Hardiman começa em novembro de 1965, quando uma junta do exército e marinha dos EUA assinam um contrato de desenvolvimento com a General Eletric. O principal objetivo do projeto era demonstrar o potencial dos trajes mecanizados e a exigência era de que o operador pudesse erguer uma carga de cerca de 680kg à uma altura de 1,82m. O operador ainda deveria poder andar, se inclinar, girar e etc. com o mínimo de restrições.

Os esforços iniciais se concentraram em estudos sobre a extensão do corpo humano: como deveriam ser as articulações do exoesqueleto e quais seriam os requisitos para o sistema de servo-mecanismos. Foram construídos modelos passivos que foram usados para determinar a disposição das articulações necessárias para possibilitar que o operador pudesse fazer movimentos naturais. 

Em 1968 todas as estruturas mecânicas do Hardiman estavam prontas, no entanto o desenvolvimento de um sistema puramente mecânico-hidráulico bilateral para o movimento dos trajes não havia progredido como o esperado. Estudos sobre o problema apontaram a necessidade de substituir o projeto de servos mecânicos-hidráulicos por eletro-hidráulicos.Com isso foi iniciado um programa de redesenho e substituição, em setembro daquele ano as pernas e o cinturão já haviam passado pelas alterações e em 69 todo o exoesqueleto já havia sido alterado e então foi dado início à um programa de testes.

Um modelo passivo


O Insucesso:

O Hardiman nunca conseguiu passar da fase de protótipo de testes. Seu grande peso, cerca de 650kg, sua velocidade limitada, 2,5m/s e a incapacidade de substituir a alimentação externa para uma interna foram certamente desvantagens, mas não pesaram para o fim do projeto.

A interface mestre-escravo demonstrou não ser a ideal para um traje mecanizado, a quantidade de camadas físicas entre o usuário e o traje escravo (que executava o trabalho de fato) gerava algum atraso, além de comprometer a precisão dos trabalhos, como o projeto visava exatamente aprimorar as interações homem máquina isso pesou bastante para o seu fracasso.

No entanto a razão principal do insucesso do Hardiman foi a incapacidade de fazer a máquina funcionar por completo. Qualquer tentativa nesse sentido fazia o traje agir de forma descontrolada e nunca conseguiram corrigir esse erro. Assim as pesquisas tiveram que se concentrar em movimentos isolados do braço.

Hardiman


O Legado:

Apesar do insucesso o Hardiman provou que os trajes mecanizados eram possíveis. Hoje, cerca de quadro décadas depois, EUA, Japão e França estão prestes a produzirem os primeiros modelos operacionais de tal tecnologia, sem dúvida a experiência fornecida pelo Hardiman foi crucial para isso.

Na próxima postagem (prevista para 08/09) veremos como anda a tecnologia nos dias atuais.


Fontes:
The story behind the real 'iron man' suit.
Cyberzoo
TR de julho de 1969
TR de maio de 1971




sábado, 18 de agosto de 2012

Trajes Mecanizados: Da ficção...

Como vimos, equipamentos que aumentam as habilidades de quem os usa já povoaram as lendas antigas. Na fantasia medieval, contos de cavalaria e até na recente literatura de "RPGs"¹ temos botas de velocidade, cinturões de força e capas de invisibilidade. Tais recursos sempre foram bons de serem explorados em histórias de ação, aventura e guerra e portanto, com o advento da ficção científica, não deixariam de serem usados. Todavia, para esse gênero, eles precisavam de uma explicação um pouco mais plausível e seus escritores abandonaram a magia e passaram a representa-los como máquinas. 

Serie Lensman:


O conceito de traje mecanizado não estava explicito na série de livros Lensman, do escritor doutor Edward Elmer Smith, mas os trajes espaciais da série continham escudos energéticos e outros aparatos que lembram a ideia de um traje mecanizado. Além disso em um dado momento da série, um traje é fabricado de modo que o mesmo possibilitou um personagem  sobreviver a um ataque maciço, dando a entender que a vestimenta tinha uma blindagem pesada demais para um humano comum conseguir suportar, mas ao mesmo tempo tinha algum sistema que dava liberdade de movimento ao seu usuário.

Audiobook do livro 2 da série Lensman: The First Lensman

Tropas Estelares:

Nesse romance de Robert A. Heinlein o traje mecanizado aparece explicitamente. Na verdade o traje da infantaria móvel (IM) é quase um protagonista e boa parte do livro fala sobre ele. Em Tropas Estelares os soldados da I.M. são a supremacia em combate, eles tem a mobilidade e proteção da cavalaria, com a pessoalidade da infantaria, graças aos seus trajes mecanizados. Estes contavam com uma série de sensores de pressão que captavam o movimento do usuário e o traje reproduzia com mais força. Além disso, os trajes contavam com jetpack, sonar, visor noturno, "depósito de armas" e proporcionavam uma formidável proteção extra.


Uma das capas de Tropas Estelares

O modelo de tropas estelares serviu de inspiração para uma grande gama de outras obras, desde Warhammer 40k até o Homem de Ferro, todos usam como base os trajes lançados na ficção por Heinlein.

Bioarmaduras:

Bioarmaduras são uma versão "biológica" dos trajes mecanizados e que só existem no mundo fictício. Foram usadas em obras como o livro Fallen Dragon de Peter F. Hamilton, o "comic book" X-O Manowar de Jim Shooter e o mangá Bio Booster Armor Guyver. Aqui no Brasil a "bioarmadura" dos universos de RPG Tormenta e Invasão é a mais conhecida.


Uma bioarmadura é descrita como uma criatura simbionte, que reveste o hospedeiro oferecendo todos os benefícios de um traje mecanizado (aumento de força, velocidade e proteção). Teria a vantagem sobre o traje comum por estar sempre com o seu usuário podendo ser acionada quando conveniente. Além disso a maior parte dos ganhos em força e velocidade estariam associados à mudanças na estrutura biológica de quem hospeda uma bioarmadura do que pela estrutura da coisa em si

Bioarmaduras em um livro de RPG da série Tormenta


Nanoarmaduras:

Apesar das vantagens das bioarmaduras é pouco provável que elas deixem a ficção. O esforço para desenvolver tal tecnologia seria grande demais e os resultados poderiam ser substituídos com ganho pela nanotecnologia.

No jogo Crysis os membros das forças especiais do EUA usam trajes que proporcionam aumento de força, velocidade, proteção e invisibilidade. O "nanosuit" lembra pouco o traje mecanizado convencional, uma grande armadura com servomotores, ao invés disso se parece com uma roupa fibrosa, feita de uma liga molecular. O aumento de força e de velocidade também é feito de forma diferente: nanopartículas são absorvidas pelo usuário e estas estimulam o trabalho muscular, respiratório e cardíaco do mesmo.

Enquanto bioarmaduras estão longe de se tornarem reais, nanoarmaduras podem entrar em cena nos campos de batalha ainda neste século.

Nanosuit de Crysis

Quase mágicas:

A ficção atual produziu trajes mecanizados que nada devem às armaduras mágicas da antiguidade. Vestimentas anti-gravitacionais em Perry Rhodan, os Chrono Commando de Command and Conquer assustariam até mesmo Thor com seu cinto de força. As tentativas de explicar o fornecimento de energia dos trajes também ainda estão além do alcance de nossa ciência atual, em fallout por exemplo, a armadura é alimenta por uma pilha de fusão nuclear!


Quase reais:

Os escritores, desenhistas e game-designers nunca explicaram de fato como funcionava suas criações, nem era possível que fizessem, mas conseguiram inspirar gerações de engenheiros à passar para a realidade tal conceito. Além disso com uma ideia ou outra eles conseguiram pincelar um pouco o futuro dessa tecnologia. Heinlein, sem dúvida, foi o que mais contribuiu, passando não só as vantagens dos trajes como uma possível doutrina de uso.


Não é atoa que após a publicação de tropas estelares o primeiro projeto real de traje mecanizado foi conduzido nos EUA.

Na próxima postagem: Trajes Mecanizados: ... a realidade, vamos abordar o projeto hardiman.

domingo, 12 de agosto de 2012

Trajes Mecanizados: O conceito.

"Um traje não é um traje espacial - embora possa servir como um. Não é primariamente uma armadura - embora os Cavaleiros da Távola Redonda não estivessem tão bem blindados como nós. Não é um tanque - mas um só soldado IM. poderia enfrentar um esquadrão daquelas coisas e acabar com elas sem ajuda se alguém fosse tolo o bastante para colocar tanques contra IM. Um traje não é uma nave mas pode voar,
 um pouco - por outro lado, nem naves, nem aeroplanos podem lutar contra um homem num traje exceto por bombardeio de saturação da área onde ele se encontra (como queimar uma casa para pegar uma pulga!). Inversamente, podemos fazer muitas coisas que nenhuma nave - no ar, na água ou no espaço podem." (Tropas Estelares)


Foi com essas palavras que Robert A. Heinlein descreveu o traje mecanizado, em seu romance intitulado "tropas estelares", em 1959. A ideia de uma vestimenta que não só fornecesse uma defesa favorável ao seu usuário, como também potencializasse  sua força e agilidade porém é bem antiga.


Uma das capas do livro "tropas estelares"



Armaduras Mágicas:


Em diversas culturas existem lendas que falam de peças de armaduras que davam muito mais do que uma proteção extra à seu usuário. O cinturão de Thor (bem... isso não é bem uma armadura) dobrava a força do deus, o Tarnhelm, também da mitologia nórdica/germânica, possibilitava seu dono mudar de forma e até ficar invisível tal qual o elmo da escuridão de Hades. O escudo de Lancelot o curou instantaneamente em um episódio e lhe dava a força de três homens! Há outras vestimentas que também davam poderes incríveis à seus usuários como as sandálias de mercúrio que tinham asas e as botas de sete-léguas e a invulnerável armadura de Aquiles.

Aumento de força, super-camuflagem, aumento de mobilidade, defesa extrema, desde muito o imaginário do homem foi povoado por itens que pudessem transformar o comum em um grande guerreiro e verdadeiros heróis em máquinas lendárias de combate. Assim, com as revoluções industriais e o surgimento de máquinas que facilitavam o trabalho e possibilitavam que um homem sozinho fizesse o serviço de outros trinta, não é de se espantar que tais idéias começassem a deixar o mundo das lendas...

Os precursores:

Em 25 de julho de 1889, o inventor russo Nicholas Yagin enviou ao escritório de patentes dos Estados Unidos da América um pedido de patente de um "aparato para facilitar a caminhada, corrida e salto". O aparelho agia passivamente, armazenando a energia do movimento das pernas do próprio usuário, aplicando-a nos momentos devidos. Essa estranha geringonça não era um traje mecanizado propriamente dito, uma vez que não fornecia energia extra ao seu usuário e não tinha motor próprio.



Figura retirada da carta patente
Em 1917 foi a vez de um norte-americano, Leslie C. Kelley, ajudar a tecnologia dos exoesqueletos a dar seus primeiros passos. Ele enviou um pedido de patente de sua máquina chamada "pedomotor". Tal invento também utilizava um "motor à vapor" e ligamentos paralelos à musculatura do usuário para amplificar o poder de corrida do usuário.


Figura retirada da carta patente
O que seria então um traje mecanizado?

Nem o pedomotor, nem o aparato para facilitar a caminhada, a corrida e o salto foram trajes mecanizados propriamente ditos. Sendo assim, o que seria um traje mecanizado?

Um traje mecanizado é uma vestimenta que acompanha os movimentos de seu usuário e os potencializa, por meio de motores localizados e um suprimento próprio de energia. Sendo assim, o "aparatus" por depender da energia gerada pelo movimento de seu usuário, não é nem parte de um traje mecanizado, já o pedomotor não acompanha a movimentação de quem o veste, sendo limitado à corrida e a caminhada, não podendo ser usado para chutes, saltos e dependo de uma partida do motor.

Um traje mecanizado basicamente consiste de um conjunto de sensores, para avaliar o movimento realizado pelo seu usuário, uma central de processamento, para analisar a intensidade do movimento e comandar os motores que irão intensificar as ações de quem o comanda.

Basicamente um traje mecanizado proporciona aumento na força e velocidade de quem o veste, mas seus benefícios podem ser estendidos à proteção extra, tanto física quanto QBN (química, biológica e nuclear), otimização dos sentidos (equipamentos de visão noturna embutidos, microfone de longo alcance...) e no futuro à camuflagem, podendo isolar o calor do usuário e do fornecimento de energia, dificultando o traje de ser captado em equipamentos de infravermelho, tratamento contra ruídos, tornando sua operação silenciosa e até um sistema de "mesclagem", dando-o a capacidade de ter uma pseudo-invisibilidade.

Exoesqueleto norte-americano XOS


Mechas e bípedes:

Enquanto já existem protótipos até de trajes mecanizados, um mecha é um conceito que por enquanto meramente ficcional. No entanto quando nos referimos ao primeiro, para muitas pessoas a imagem que é remetida é do segundo.

O termo "mecha" aqui, apesar de ter sido pego emprestado do universo de animes e tokusatus, não se refere à robôs gigantescos tripulados. Mas sim máquinas humanoides, não tão grandes assim, tripuladas. Ok, ainda não está fácil fazer a distinção do "mecha possível" do "fictício" e do exoesqueleto, então vamos tentar novamente: Um mecha possível não é um robô de tamanho absurdo e sem sentido, e sim uma plataforma de armas que usa pernas mecânicas para se locomover (meio que teoricamente daria maior mobilidade em terrenos irregulares, cheios de entulho, estreitos...) e braços mecânicos armados. Diferente de um exoesqueleto, um "mecha" não é uma "vestimenta", o seu operador teoricamente ficaria em um cockpit. Um mecha também não tem o compromisso de amplificar os movimentos do seu usuário:  as pernas mecanizadas podem fazer apenas movimentos pré-programados sem se importar com o movimento das pernas do piloto e os braços mecanizados, que não são obrigatórios, podem ser operados como um braço robótico normal, podendo ter inclusive menor grau de liberdade que um braço humano.

Ou seja, basicamente a diferença entre um traje mecanizado e um "mecha", é que o segundo precisa de uma programação para seus movimentos e o primeiro não, quem faz o movimento é o usuário e o traje só potencializa. Por causa dessa característica inclusive, um traje mecanizado pode ser usado para a recuperação de uma pessoa com deficiências, enquanto um "mecha" não.

Kuratas, um "mecha" japonês. Apenas entretenimento.


O Futuro da guerra:

Soldados se correndo dezenas de quilômetros por hora, saltando alturas incríveis, completamente imunes aos calibres anti-pessoais convencionais e com força sobre-humana. Essas "armaduras mágicas" modernas que prometem revolucionar o campo de batalha, parecem coisa de filme. De fato a ficção explorou muito os trajes mecanizados. Confira nossa próxima postagem: saindo da ficção.