quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Trajes mecanizados: ... a realidade

As perspectivas sobre os trajes mecanizados, oferecidas pela ficção eram boas demais para que algo do tipo continuasse apenas como uma ideia. Na década de 60 militares norte-americanos em conjunto com a General Eletric começaram um projeto ousado: criar o primeiro traje mecanizado, o Hardiman.

Hardiman


A ideia:

Uma máquina que imite os movimentos de seu usuário, uma conexão da inteligência e versatilidade humana com a força e a resistência de uma máquina, como foi dito no "naval research reviews" de julho de 1967. A ideia já explorada e difundida pela ficção começou a ganhar forma com o projeto Hardiman: um par de exoesqueletos movidos por um sistema elétrico e hidráulico que tinha a capacidade de potencializar a força de seu usuário na proporção de 1 para 25, ou seja se um operador levantasse um peso de 100kg usando o traje ele sentiria como se fossem apenas 4kg.

O hardiman funcionava num sistema de mestre-escravo, por isso era necessário um par de exoesqueletos: em um ficava o operador, que fazia os movimentos que eram copiados pelo traje escravo. O fornecimento de energia vinha de um cordão umbilical o que não era necessariamente um problema, já que não se previsa seu uso direto em combate e sim em tarefas de material bélico, como o carregamento de bombas em aviões.

Concepção de uso: carregamento de bombas em aviões


A História:

O projeto Hardiman começa em novembro de 1965, quando uma junta do exército e marinha dos EUA assinam um contrato de desenvolvimento com a General Eletric. O principal objetivo do projeto era demonstrar o potencial dos trajes mecanizados e a exigência era de que o operador pudesse erguer uma carga de cerca de 680kg à uma altura de 1,82m. O operador ainda deveria poder andar, se inclinar, girar e etc. com o mínimo de restrições.

Os esforços iniciais se concentraram em estudos sobre a extensão do corpo humano: como deveriam ser as articulações do exoesqueleto e quais seriam os requisitos para o sistema de servo-mecanismos. Foram construídos modelos passivos que foram usados para determinar a disposição das articulações necessárias para possibilitar que o operador pudesse fazer movimentos naturais. 

Em 1968 todas as estruturas mecânicas do Hardiman estavam prontas, no entanto o desenvolvimento de um sistema puramente mecânico-hidráulico bilateral para o movimento dos trajes não havia progredido como o esperado. Estudos sobre o problema apontaram a necessidade de substituir o projeto de servos mecânicos-hidráulicos por eletro-hidráulicos.Com isso foi iniciado um programa de redesenho e substituição, em setembro daquele ano as pernas e o cinturão já haviam passado pelas alterações e em 69 todo o exoesqueleto já havia sido alterado e então foi dado início à um programa de testes.

Um modelo passivo


O Insucesso:

O Hardiman nunca conseguiu passar da fase de protótipo de testes. Seu grande peso, cerca de 650kg, sua velocidade limitada, 2,5m/s e a incapacidade de substituir a alimentação externa para uma interna foram certamente desvantagens, mas não pesaram para o fim do projeto.

A interface mestre-escravo demonstrou não ser a ideal para um traje mecanizado, a quantidade de camadas físicas entre o usuário e o traje escravo (que executava o trabalho de fato) gerava algum atraso, além de comprometer a precisão dos trabalhos, como o projeto visava exatamente aprimorar as interações homem máquina isso pesou bastante para o seu fracasso.

No entanto a razão principal do insucesso do Hardiman foi a incapacidade de fazer a máquina funcionar por completo. Qualquer tentativa nesse sentido fazia o traje agir de forma descontrolada e nunca conseguiram corrigir esse erro. Assim as pesquisas tiveram que se concentrar em movimentos isolados do braço.

Hardiman


O Legado:

Apesar do insucesso o Hardiman provou que os trajes mecanizados eram possíveis. Hoje, cerca de quadro décadas depois, EUA, Japão e França estão prestes a produzirem os primeiros modelos operacionais de tal tecnologia, sem dúvida a experiência fornecida pelo Hardiman foi crucial para isso.

Na próxima postagem (prevista para 08/09) veremos como anda a tecnologia nos dias atuais.


Fontes:
The story behind the real 'iron man' suit.
Cyberzoo
TR de julho de 1969
TR de maio de 1971




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