domingo, 12 de agosto de 2012

Trajes Mecanizados: O conceito.

"Um traje não é um traje espacial - embora possa servir como um. Não é primariamente uma armadura - embora os Cavaleiros da Távola Redonda não estivessem tão bem blindados como nós. Não é um tanque - mas um só soldado IM. poderia enfrentar um esquadrão daquelas coisas e acabar com elas sem ajuda se alguém fosse tolo o bastante para colocar tanques contra IM. Um traje não é uma nave mas pode voar,
 um pouco - por outro lado, nem naves, nem aeroplanos podem lutar contra um homem num traje exceto por bombardeio de saturação da área onde ele se encontra (como queimar uma casa para pegar uma pulga!). Inversamente, podemos fazer muitas coisas que nenhuma nave - no ar, na água ou no espaço podem." (Tropas Estelares)


Foi com essas palavras que Robert A. Heinlein descreveu o traje mecanizado, em seu romance intitulado "tropas estelares", em 1959. A ideia de uma vestimenta que não só fornecesse uma defesa favorável ao seu usuário, como também potencializasse  sua força e agilidade porém é bem antiga.


Uma das capas do livro "tropas estelares"



Armaduras Mágicas:


Em diversas culturas existem lendas que falam de peças de armaduras que davam muito mais do que uma proteção extra à seu usuário. O cinturão de Thor (bem... isso não é bem uma armadura) dobrava a força do deus, o Tarnhelm, também da mitologia nórdica/germânica, possibilitava seu dono mudar de forma e até ficar invisível tal qual o elmo da escuridão de Hades. O escudo de Lancelot o curou instantaneamente em um episódio e lhe dava a força de três homens! Há outras vestimentas que também davam poderes incríveis à seus usuários como as sandálias de mercúrio que tinham asas e as botas de sete-léguas e a invulnerável armadura de Aquiles.

Aumento de força, super-camuflagem, aumento de mobilidade, defesa extrema, desde muito o imaginário do homem foi povoado por itens que pudessem transformar o comum em um grande guerreiro e verdadeiros heróis em máquinas lendárias de combate. Assim, com as revoluções industriais e o surgimento de máquinas que facilitavam o trabalho e possibilitavam que um homem sozinho fizesse o serviço de outros trinta, não é de se espantar que tais idéias começassem a deixar o mundo das lendas...

Os precursores:

Em 25 de julho de 1889, o inventor russo Nicholas Yagin enviou ao escritório de patentes dos Estados Unidos da América um pedido de patente de um "aparato para facilitar a caminhada, corrida e salto". O aparelho agia passivamente, armazenando a energia do movimento das pernas do próprio usuário, aplicando-a nos momentos devidos. Essa estranha geringonça não era um traje mecanizado propriamente dito, uma vez que não fornecia energia extra ao seu usuário e não tinha motor próprio.



Figura retirada da carta patente
Em 1917 foi a vez de um norte-americano, Leslie C. Kelley, ajudar a tecnologia dos exoesqueletos a dar seus primeiros passos. Ele enviou um pedido de patente de sua máquina chamada "pedomotor". Tal invento também utilizava um "motor à vapor" e ligamentos paralelos à musculatura do usuário para amplificar o poder de corrida do usuário.


Figura retirada da carta patente
O que seria então um traje mecanizado?

Nem o pedomotor, nem o aparato para facilitar a caminhada, a corrida e o salto foram trajes mecanizados propriamente ditos. Sendo assim, o que seria um traje mecanizado?

Um traje mecanizado é uma vestimenta que acompanha os movimentos de seu usuário e os potencializa, por meio de motores localizados e um suprimento próprio de energia. Sendo assim, o "aparatus" por depender da energia gerada pelo movimento de seu usuário, não é nem parte de um traje mecanizado, já o pedomotor não acompanha a movimentação de quem o veste, sendo limitado à corrida e a caminhada, não podendo ser usado para chutes, saltos e dependo de uma partida do motor.

Um traje mecanizado basicamente consiste de um conjunto de sensores, para avaliar o movimento realizado pelo seu usuário, uma central de processamento, para analisar a intensidade do movimento e comandar os motores que irão intensificar as ações de quem o comanda.

Basicamente um traje mecanizado proporciona aumento na força e velocidade de quem o veste, mas seus benefícios podem ser estendidos à proteção extra, tanto física quanto QBN (química, biológica e nuclear), otimização dos sentidos (equipamentos de visão noturna embutidos, microfone de longo alcance...) e no futuro à camuflagem, podendo isolar o calor do usuário e do fornecimento de energia, dificultando o traje de ser captado em equipamentos de infravermelho, tratamento contra ruídos, tornando sua operação silenciosa e até um sistema de "mesclagem", dando-o a capacidade de ter uma pseudo-invisibilidade.

Exoesqueleto norte-americano XOS


Mechas e bípedes:

Enquanto já existem protótipos até de trajes mecanizados, um mecha é um conceito que por enquanto meramente ficcional. No entanto quando nos referimos ao primeiro, para muitas pessoas a imagem que é remetida é do segundo.

O termo "mecha" aqui, apesar de ter sido pego emprestado do universo de animes e tokusatus, não se refere à robôs gigantescos tripulados. Mas sim máquinas humanoides, não tão grandes assim, tripuladas. Ok, ainda não está fácil fazer a distinção do "mecha possível" do "fictício" e do exoesqueleto, então vamos tentar novamente: Um mecha possível não é um robô de tamanho absurdo e sem sentido, e sim uma plataforma de armas que usa pernas mecânicas para se locomover (meio que teoricamente daria maior mobilidade em terrenos irregulares, cheios de entulho, estreitos...) e braços mecânicos armados. Diferente de um exoesqueleto, um "mecha" não é uma "vestimenta", o seu operador teoricamente ficaria em um cockpit. Um mecha também não tem o compromisso de amplificar os movimentos do seu usuário:  as pernas mecanizadas podem fazer apenas movimentos pré-programados sem se importar com o movimento das pernas do piloto e os braços mecanizados, que não são obrigatórios, podem ser operados como um braço robótico normal, podendo ter inclusive menor grau de liberdade que um braço humano.

Ou seja, basicamente a diferença entre um traje mecanizado e um "mecha", é que o segundo precisa de uma programação para seus movimentos e o primeiro não, quem faz o movimento é o usuário e o traje só potencializa. Por causa dessa característica inclusive, um traje mecanizado pode ser usado para a recuperação de uma pessoa com deficiências, enquanto um "mecha" não.

Kuratas, um "mecha" japonês. Apenas entretenimento.


O Futuro da guerra:

Soldados se correndo dezenas de quilômetros por hora, saltando alturas incríveis, completamente imunes aos calibres anti-pessoais convencionais e com força sobre-humana. Essas "armaduras mágicas" modernas que prometem revolucionar o campo de batalha, parecem coisa de filme. De fato a ficção explorou muito os trajes mecanizados. Confira nossa próxima postagem: saindo da ficção.

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